Lágrimas,
de Sang Soo
Numul, Coréia
do Sul, 2000
Já está
se tornando lugar comum a imagem da grande cidade oriental, dos Tigres
asiáticos ou redondezas, repleta de sujeira, perdição,
corrupção e miséria. Nos festivais sempre aparecem
filmes que reforçam essa idéia, com seus espaços
urbanos extremamente ocidentalizados, e seus habitantes vivendo como robôs
em um mundo que não entendem muito bem. Lágrimas
continua essa "tradição" fazendo uso de toda a
violência que pode. A intenção pode ser boa, querendo
expor um lado negativo de todo o processo de crescimento econômico
global da região. Ou talvez apenas afirmar uma diferença
e dificuldade de adaptação a esse processo. De qualquer
forma, para nós, se essa realidade ainda parece estranha, a freqüência
da sua repetição já está fazendo com que ela
seja a mais aceitável, ficando difícil não vincular
a desordem urbana ao crescimento econômico.
É uma síndrome
de rebaixamento querer mostrar excessivamente os malefícios de
seu mundo. Em Lágrimas a juventude não tem mais jeito.
Todos são drogados, prostituídos, sem valores morais e dependentes
confessos de dinheiro e consumo. Um mundo como esse é de fazer
chorar.
Se encaixando na linha
do cinema depreciativo urbano o problema de Lágrimas acaba
sendo o mesmo de outros filmes parecidos e vistos em outras ocasiões.
É muito raro a discussão da realidade mostrada passar por
um questionamento mais profundo. Se o ambiente é sujo, se as pessoas
são corruptas, se a juventude não tem nada para oferecer
a um futuro, o filme não se preocupa em expor uma causa ou sequer
procurá-la. Não assume assim um compromisso verdadeiro com
a solução definitiva dos problemas que tanto incomodam sua
sociedade, a ponto de obrigá-la a fazer esse tipo de cinema. Lágrimas
quer nos fazer sentir pela realidade viciada dos personagens dentro do
seu universo específico, mas não deseja que passemos disso,
não nos dá permissão de sentir pela miséria
geral que leva a uma situação como a mostrada. Não
existe vontade de mudança. Indo mais longe, podemos pensar o filme
como uma ode à estagnação.
É preciso muito
mais do que simplesmente mostrar para provar envolvimento, e mais ainda
para provar desejo real de mudança. Lágrimas não
gosta do seu mundo, mas não sabe como melhorar as coisas. Pior,
não está disposto a isso.
João Mors Cabral
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