Mundo Cão,
de Terry Zwigoff


Ghost World, EUA, 2001

Baseado nos quadrinhos de Daniel Clowes, um dos maiores expoentes das histórias em quadrinhos independentes na atualidade – e isso quer dizer muitas referências pop, um ar autobiográfico e adolescentes com dificuldade de se integrar socialmente – Mundo Cão conta as aventuras de Enid (Thora Birch), espécie de alter ego feminino do autor. Enid é uma garota de 18 anos que, tendo acabado a high school, o segundo grau das escolas americanas, se vê às voltas com as agruras do mundo adulto. Acompanhamo-la desde a cerimônia de formatura, onde já é fácil perceber o quão destacada dos outros de sua idade ela é, relacionando-se apenas com uma amiga de longa data, Rebecca (Scarlett Johansson), com quem construiu planos em que, ao invés de cursarem a universidade, arranjariam empregos e morariam juntas. Acontece que as coisas não saem como o planejado: Enid vê as suas pequenas certezas irem por água abaixo ao mesmo tempo em que conhece um nerd de meia idade, Seymour (Steve Buscemi), por quem acaba, digamos, se apaixonando.

Mas acontece que a intenção do diretor não é a de fazer uma comédia romântica adolescente, mas antes, seguindo os passos do autor dos quadrinhos, de fazer uma espécie de crônica desse período da vida que se encontra entre a adolescência e o mundo adulto. E é aí que a coisa complica: as soluções que se propõem rebuscadas são absolutamente pueris; há diálogos entre Enid e Seymour sobre não pertencerem ao mundo das "pessoas comuns" que, devendo ser sérios, causam, entretanto, risos. Há ainda o final, com uma mensagem do tipo "viver é difícil, mas ainda há esperança" surgindo através de uma metáfora que é puro ranço de maus quadrinhos indies. Por outro lado, as atuações são ótimas, Thora Birch está muito bem como Enid e Steve Buscemi parece ser um dos desenhos de Clowes que ganhou vida; há ótimas piadas, que funcionam e, enfim, boas cenas. Mundo Cão é daquele tipo de filme simpático, que, se não chega a ser bom, tem seus momentos; talvez estivesse em melhor lugar caso seu diretor contasse com uns 20 anos a menos. Pois, em um certo sentido, é bem bizarro que um homem de 50 anos faça um filme sobre uma adolescente deslocada – dos dias de hoje – que, em sua busca por si mesma, acabe na cama de um quarentão.

Juliana Fausto