Um
Estranho Jogo de Sedução,
de Jacques Doillon
Carrement à l'Ouest,
França, 2000
O cinema de Jacques
Doillon é curioso. Não há um estilo específico
em seus filmes, não há uma temática, uma especial
predileção por lugares, situações... ele pode
fazer desde pequenas obras-primas da frieza de O Jovem Assassino até
filmes quentes, emocionais, quase lacrimejantes como Ponnette.
Um Estranho Jogo de Sedução está mais para o
primeiro perfil: sem música o tempo inteiro, uma câmera intencionalmente
instável, transmitindo insegurança e falta de controle da
situação, e acima de tudo personagens imprevisíveis,
incapazes de serem totalmente compreendidos pelo espectador.
Filmado de maneira
quase documental pela extraordinária Caroline Champetier, Um
Estranho Jogo de Sedução tem uma urgência que
é derivada exclusivamente do modo de filmar, entre Cassavetes e
Rivette e os primeiros filmes do Dogma 95, onde os movimentos de câmera
e uma noção como enquadramento fazia sentido. O filme acompanha
um dia na vida de Alex, traficante meia-boca que aparece à porta
da universidade para cobrar de um burguezinho o dinheiro que lhe é
devido. Depois de dar-lhe uns sopapos, Alex passa a ser seguido pela namorada
do rapaz, Fredie, que lhe propõe uma estranha espécie de
parceria. Ela vai à casa dele, e juntos os dois decidem ir a uma
boate, para encontrar alguma menina para Alex. Juntos, eles conversam
com Sylvia, uma menina que acaba de deixar o namorado. Os dois convencem
a menina para ir conversar em um hotel, onde se desencadeia o "estranho
jogo" do título. Um jogo onde estão em jogo o sentimento
e muitas palavras jamais sexo.
A graça do
filme mantém-se muito na absoluta imprevisibilidade dos acontecimentos.
Cada personagem parece um estranho solo de free jazz, com um equilíbrio
estranho, à beira do colapso e a meio-caminho da sedução.
Nenhum personagem tem uma postura decisiva, cada um está disposto
a mudar sua vida a cada instante. São pessoas que não têm
passado nem futuro, apresentam apenas um presente que só um personagem
de cinema ou literatura pode ter. Fredie e Sylvia estão à
beira de se apaixonarem por Alex, que também parece jogar tudo
em cada lance, com seu irmão, com o namorado de Fredie ou com um
capanga amigo deste. Um desejo extremo de cinema, um filme seco e difícil
de degustar, mas uma pequena pérola no meio de um Festival tão
fadado aos insossos filmes psicológicos ou ao falso esteticismo
de um cinema que pouco se importa em criar verdadeiros personagens (exemplo
maior: Aronofsky).
Ruy Gardnier
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