Disco Pigs,
de Kirsten Sheridan


Disco pigs, Irlanda, 2001

Pensando bem, acho que Disco Pigs não vai despertar interesse algum aqui no Brasil. Quem vai querer ver uma história de amizade obsessiva, culminando em amor fatal, entre dois adolescentes irlandeses meio marginais? Talvez não seja interessante nem para irlandês. O que poderia chamar a atenção por aqui é a paisagem irlandesa, fria, com casinhas de tijolo nu, o que deve ser corriqueiro para eles.

Alguém poderá se comover com a dedicação mútua do casal de personagens. É realmente bonita uma amizade antiga que se mantém através dos anos. Mas fazer um filme sobre isso, apenas, não faz sentido. Quem não se conformar e achar que existe algo escondido na trama vai se cansar de procurar significados e desistirá antes do fim. Mesmo vasculhando bem o que se passa na tela não será possível notar o mínimo vínculo com alguma ideologia política, social, estética. A história dos personagens não serve de pano de fundo para considerações de nenhum tipo. Também não se nota nenhuma reflexão em canto ou recanto algum. É só uma história, a do casal adolescente.

Mas o pior é a direção achar que para sustentar esse tipo de filme basta carregar em detalhes poéticos. O resultado é um uso ineficaz de clichês de imagens, de inserções de sonhos e ilusões. Dá vontade de se perguntar: "E daí???". Se esse amor contado fosse ao menos catártico poderia ser uma justificativa. Mas é tão corriqueiro e ao mesmo tempo distante, tão sem relação com a normalidade que nem tem essa desculpa.

No meio do festival, com 400 filmes para ver, é um disparate perder muito tempo com esse. Acho até que já gastei demais.

João Mors Cabral