A Dialética no Amor,
de Kunitochi Manda


Unloved, Japão, 2001

A Dialética no Amor, tradução indigesta para Unloved, é o primeiro filme de Kunitoshi Manda, ex-assistente de Kiyoshi Kurosawa, diretor de dois filmes exibidos ano passado aqui no Festival do Rio. É um melodrama centrado nas dificuldades que Mitsuko (Yoko Miroguchi), uma jovem que faz da resignação sua crença pessoal, encontra na tentativa de estabelecer uma relação amorosa. Como boa funcionária da prefeitura, ela chama a atenção de Eiji (Toru Nakamura), um executivo bem estabelecido e ambicioso, que a convida para trabalhar em sua empresa como secretária particular. Ela recusa, mas termina por envolver-se com o sujeito. A situação entra em crise e ela encontra Hiroshi (Shunsuke Matusoka), seu vizinho solitário que trabalha como empacotador de aparelhos eletrônicos e passa o resto de seu tempo mastigando ambições adormecidas, com quem passa a viver.

Manda é um diretor bem econômico e seguro de si, mas não se pode dizer o mesmo de seu trabalho como roteirista neste filme. Ele realiza um bom trabalho com os atores, tem excelente noção dos ambientes e trabalha consideravelmente bem as soluções visuais para as cenas, além de ter um significativo talento para a decupagem (algumas sequências ilustram isso ricamente, como aquela em que Mitsuko dispensa Eiji). Tudo isso, no entanto, a serviço de um texto monótono, preso à técnica mais convencional de desenvolvimento psicológico das personagens, além de um gosto irremediável para a divagação. Em alguns (poucos) momentos, Manda consegue imprimir seu ritmo e levar o filme para o limiar da abstração. São momentos em que sua visão das relações humanas fica mais clara e revelam talento em potencial. É de se esperar que seus próximos filmes consigam conciliar melhor estes problemas.

Fernando Verissimo