Chloe,
de Gô Riju


Chloe, Japão, 2001

Há em Chloe o sinal de uma beleza pura. O diálogo coloquial, e o amor tímido que surge dos personagens em suas primeiras sequências são vestígios de uma busca da imagem de beleza pura que circundará toda a narrativa do filme. Chloe é uma jovem especial, de uma alegria que invade a vida de um homem jovem e solitário: os dois se casam. Pouco tempo depois, como que partindo do ápice de sua relação, a surpresa: a pureza de Chloe se aparenta num mal inusitado. Uma flor cresce dentro de seu peito...tomando seus pulmões.

A flor é retirada. Espantados, o casal tenta voltar a sua vida comum. Mas a doença retorna! Uma nova flor cresce no outro pulmão de Chloe. A retirada levaria à morte...O lírio-do-mar que cresce em Chloe não pode florescer...

A vida do casal transforma-se num estranho cultivo desse botão de flor que é a morte de Chloe não-florescida. O jovem descobre que outras flores inibem o crescimento do botão e lota seu quarto de flores. A mulher fica ali, esperando o tempo passar, enquanto seu quarto se torna cada vez menor, mais sufocante. O jovem consegue emprego numa floricultura, de onde poderá pegar todas as flores que precisar para tentar salvá-la. Aos poucos, as flores perdem o efeito.

Entremeado com cuidadosas histórias paralelas (como a do amigo apaixonado por gravuras japonesas que destrói seu casamento e sua vida em função de sua coleção) o filme faz um pequeno esboço da relação antagônica entre beleza, mal e bem. A beleza no filme é sempre essa faca de dois gumes, que tanto encanta quanto mata. Viver e morrer nessa beleza é o destino de Chloe. Assim como o vício do colecionador de gravuras... A dedicação do jovem japonês é o retrato do amor como um cuidar do outro, como um querer cercar de belezas, como um querer salvar todo o seu mundo... que é ela, ali, deitada na cama.

Quando Chloe morre, o jovem fala baixinho a um menino que os acompanhara por toda a narrativa: "Está tudo bem, agora... Chloe foi embora, e levou com ela todos os nossos problemas..."

Em seguida, vemos a imagem da mulher de seu amigo colecionador, assassinando o artista cujas gravuras haviam destruído seu casamento e matado seu marido. Essa impossibilidade de uma beleza que redima a todos, e ao mesmo tempo, a presença dessa mulher que leva um mal-flor dentro do peito.

Um belo filme, por vezes limitado a uma certa repetição de imagens – como numa reiteração de idéias. Falta pouco para se tornar um grande filme. Mas sua curiosa narrativa é capaz de encantar e refletir sobre diversos temas como dedicação, amor, beleza, bondade, amizade... Suas possibilidades e suas impossibilidades. Os limites da vida e da beleza que a atravessa.

Felipe Bragança