O Mistério de Camarate,
de Luiz Felipe Rocha


Camarate, Portugal, 2000

O problema deste filme é querer ser muito importante. Contando a história de um misterioso acidente que, em 1980, matara importantes figuras do governo português, o filme de L. F. Rocha tenta ser um verdadeiro petardo contra a suposta tentativa do poder judiciário de um atentado. Para isso, conta a história recente de uma juíza que tem em mãos a possibilidade de reabrir o caso e finalmente desvendar o mistério. O problema é que Rocha, apesar de estar contando uma história sobre um evento público conhecido, parece não acreditar que o público, português principalmente, se interesse pelo caso a priori. São repetitivos demais e explicativos demais os diálogos entre os personagens.

Embora tente dar pinceladas da vida pessoal da juíza, todos os diálogos do filme giram em torno do mesmo assunto: o avião caído no bairro de Camarate. Chega a ser engraçado esperar quem será o próximo personagem a se virar para a juíza e dizer : "Soube que te calhou o caso Camarate..." O filme consegue fazer com que seu chamariz central se torne desinteressante, chegamos a querer saber mais da vida da juíza do que sobre o caso. A postura do filme desde o início é o de que algo havia de errado na hipótese de acidente, e o resto do filme é apenas uma reiteração do mesmo.

Um cinema ferramental, tentativa direta de fazer política através de uma narrativa mínima. Cenas longuíssimas onde dois personagens repetem todas as informações que já sabemos sobre o caso, fazem do filme um exercício de paciência. O título da versão brasileira é bastante equivocado: não há mistério em Camarate, sabemos de tudo o tempo todo, e é este, justamente, o maior de seus problemas.

Felipe Bragança