Cabecita Rubia,
de Luis Sampieri


Cabecita rubia, Argentina, 2000

 

Gasto road-movie melancólico. Repetição de estereótipos da arte da miséria. Cabecita Rubia tenta se valer de personagens primários para contar sua historieta de decadência. Apostando nos tipos sujos dos personagens, se abstém de desenvolver os personagens. Personagens que, por fim, ficam sendo apenas aquilo que nos aparece de imediato: há o mágico mambembe (que como todo mágico mambembe, é decadente...), há o anão (que se limita a ser sua aparência curiosa), há o travesti (que se prostitui...) e há a trapezista velha e cansada que se mata de amor... Com uma sinopse que nos lembra uma piada de sacanagem, ou a obra-prima O Profeta da Fome, esse Cabecita é uma incógnita de cinema.

Apesar de o universo do circo (como resumo das misérias humano-sociais) já terem gerado obras como o filme de Maurice Capovilla – aqui, porém, no filme fácil de Sampieri, tudo é colocado de forma extremamente previsível. Tudo é diretamente óbvio. Cabecita não consegue estabelecer nenhuma ironia diante da imagem, não consegue extrair nenhum sentido que não os já assentados no imaginário cinematográfico: o do circo como espaço da decadência de uma arte ingênua... de uma arte pura, das livres atrações.

Sampieri é absurdamente preguiçoso, limitado em estabelecer suas relações. Acaba por não trazer nada de novo, sub-explorar as paisagens incríveis da Patagônia argentina e desperdiçar as parcas tentativas de complexidade de seus personagens.

Difícil acreditar que o roteirista/diretor tenha realmente considerado seu filme capaz de ir às filmagens, tamanhos são os furos de ritmo e de sentidos. A impressão que se tem é a de se estar assistindo a um esboço muitíssimo vago de uma história ainda não contada. Uma história que, antes de qualquer coisa, precisa estabelecer seus motivos, suas razões de ser: Cabecita Rubia é tão sem-vida, tão morno, que duvido realmente que Sampieri soubesse de fato o que buscava com suas imagens. Nada mais poderíamos esperar, portanto, do que seu desfecho tão inócuo quanto melodramático.

Felipe Bragança