Editorial



Alicia Silverstone vai às compras: Clueless (As Patricinhas de Beverly Hills) de Amy Heckerling

O cinema faz seu aficcionado acompanhá-lo pelos seus mais intrincados e infames caminhos. E, ao contrário, pode fazê-lo dirigir-se para a glória também. E quase sempre, chega-se aos dois lugares ao mesmo tempo, na mesma aposta. Porque o desejo de cinema, a aposta de que num filme há muito mais daquilo que passa pela tela, nos faz também descobrir que nos caminhos infames há muita beleza e que, de forma oposta, algumas luxuosas avenidas não passam de ouro de tolo. É nesse espírito que lançamos as duas principais pautas dessa 28ª edição da revista: uma reflexão do gênero documentário a partir dos filmes exibidos no festival É Tudo Verdade e uma recapitulação, ou melhor, um questionamento do cinema de temática adolescente produzido nos Estados Unidos nos anos 80 – e transformado em grande veio mercadológico, até hoje. Desde o cinema mais sério (o documentário, em sua acepção didática, é desde os anos 30 considerado como primo rico do cinema) até o mais descontraído e aparentemente não-artístico, nosso principal interesse é cobrir o cinema em seus diversos estados.

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Acompanham essas duas grandes pautas a continuação de nossas colunas – dessa vez, é Ricardo Miranda que escreve – e a publicação de dois ensaios sobre cinema de dois autores que nos honram em desejar serem publicados em Contracampo: a pesquisadora Adriana Kurtz (que escreve sobre cinema e Walter Benjamin) e o cineasta Sylvio Back (que escreve sobre documentário hagiográfico). Acresce à edição a nossa primeira cobertura de um dos grandes festivais brasileiros, o 5º Festival de Recife. Da mesma forma que o Abril pro Rock, acontecido na semana anterior, o Festival criou confusões, revelou talentos e foi seguido em massa pelo público. Adoravelmente receptiva, a manguetown merece os nossos elogios. Sem medo, como a Nação Zumbi.

Ruy Gardnier