Editorial



Glauber Rocha mostra as garras: Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe estão entre os dez maiores filmes brasileiros em nova pesquisa de Contracampo

Com a presente edição, Contracampo completa dois anos e meio de vida – marca invejável em se tratando de um espaço crítico, especialmente voltado para o cinema que é brasileiro. Poucas foram as publicações – eletrônicas ou não – com este perfil que alcançaram tamanha longevidade. Essa é também uma trajetória que de certa maneira tomou proporções inesperadas; para nós, ela talvez seja o signo não apenas de uma maioridade. Nestes anos, a revista parece ter conquistado algo maior, que é também uma responsabilidade: isto é, uma necessidade crescente de se posicionar, de não apenas se filiar, como também produzir um pensamento, de, enfim, dizer a que vem. E aí chegamos ao ponto, nossas pautas desta edição.

Durante os meses de janeiro, fevereiro e março, a redação de Contracampo realizou uma pesquisa: contatamos mais de 100 pessoas que fazem, pensam e constróem o cinema brasileiro hoje, com um pedido: que listassem seus filmes nacionais prediletos. O que há de precioso neste desafio, seu valor de documento, é em primeiro lugar a pluralidade de vozes – e ao escaparmos do reconhecido e, quase obrigatoriamente, tínhamos uma outra idéia em mente: fugir igualmente de respostas óbvias. Esperávamos outra coisa que não o que já visto e consagrado nas cinco pesquisas do gênero já feitas no Brasil. Se conseguimos?

A pergunta talvez esteja na pessoa errada: o cinema brasileiro conseguiu reformular sua visão sobre si mesmo? Há algo de novo na maneira de ver os filmes, e que dê conta da necessidade de outras respostas às novas questões do mundo e do cinema? Sem dúvida, esperávamos muitas coisas com esta pesquisa – e se sobre muitas delas não poderíamos agir, nem seria desejável, sobre outras tantas, deveríamos. Por exemplo: repercutindo, problematizando, questionando. E para tal, publicamos também uma série de artigos, que compõem uma pauta longa, a ser conferida – esperamos, também – com toda atenção pelo leitor.

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Enquanto preparávamos essa pesquisa, Contracampo não parou, pelo contrário. A revista também organizou, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, uma grande retrospectiva do cinema brasileiro na década de 90, seguida de diversos debates e acompanhada por um catálogo crítico – cujos artigos, aliás, foram reproduzidos, alguns em versão aumentada, no nosso número 26. A mostra de filmes, e mais do que a mostra, os debates, e mais ainda, a repercussão de tudo isto (inclusive certa falta de repercussão em alguns meios), também não poderiam estar de fora da revista, completando uma visão fundamental sobre a década recém-passada já iniciada na edição dupla 13-4. E a todo esse esforço de repensar o passado que é recentíssimo, continuando também com a tarefa de dialogar com outras vozes (já iniciada no número passado), de reforçar o conteúdo da revista, neste mês Contracampo incrementa seu quadro de colaboradores-colunistas com o belo artigo de Lécio Augusto Ramos, pesquisador e crítico, tendo realizado inúmeros trabalhos de investigação sobre cinema brasileiro. Feliz coincidência, o artigo de Lécio se une e fornece um outro olhar à empreitada crítica já planejada pela revista.

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Duas visões sobre o passado – uma para o que é mais imediato, outra para toda uma História, mas ambas sempre com os olhos voltados para o futuro que nos espera, a ser construído.

Juliano Tosi