Os diretores mais votados

 

O que se pode apreender, se é que algo, desta lista de principais filmes do cinema nacional, através de uma ordenação pelos diretores e seus respectivos votos? Claro que há inúmeras de outras formas de se analisar a lista, seja por época de realização, por movimentos estéticos (como acontece em outros textos nesta pauta), assim como pelos atores, produtores (e aí Luiz Carlos Barreto surgiria disparado), técnicos. Não se vai aqui buscar citar nem renegar toda a tradição de importância que se dá à figura do diretor, porque esta é uma longa e interminável discussão. O que importa é que se pode sim tirar algumas coisas desta ordenação.

Primeiro que há dois cineastas completamente disparados dos outros. O primeiro é, disparado, o grande mito do cinema nacional, o homem que com seus filmes, livros e idéias, esteve à frente (segundo o próprio segundo colocado aliás) do movimento mais citado e influente de todo o cinema nacional: o Cinema Novo. O espectro de Gláuber continua disparado, sendo o único cineasta com dois filmes entre os mais importantes. Mas, logo atrás, há uma figura que marca o cinema nacional não pela sua personalidade magnética como Gláuber, mas pela sua presença irremovível durante mais de 45 anos no cenário nacional. Talvez nosso principal cineasta no que se considere a consolidação de uma obra, uma coerência de olhar. Tanto que, se Gláuber está na frente, isso se dá por conta dos dois maiores filmes de sua carreira, já que os outros são bem menos mencionados e lembrados. Já Nelson Pereira dos Santos tem um filme disparado entre os 10, Vidas Secas, mas além dele tem outros 7 filmes lembrados, sendo que dois deles chegaram bem perto da lista final: Rio 40 Graus e Memórias do Cárcere, sendo que há simplesmente quase 30 anos entre estes. Gláuber é um foguete que, em pouco mais de 15 anos, marcou indelevelmente o imaginário do cinema nacional. Nelson é um marco permanente que dá norte a este cinema, por quase 50 anos.

Entre os nomes que se seguem, há alguns fatos interessantes: entre os 10 mais citados estão dois diretores que não conseguiram encaixar um filme na lista por filmes: Leon Hirszman e Júlio Bressane. Este segundo, inclusive, é o cineasta com maior número de obras citadas: nove, coroando uma carreira numericamente impressionante. Mas, até por dividir os admiradores entre estas obras, Bressane não teve uma só destacada na lista, embora Matou a Família e foi ao Cinema tenha chegado bem perto. Já Leon Hirszman também teve uma divisão grande entre 7 filmes, mas se não está com um filme entre os 10 é porque, no seu caso, não há uma clareza de qual sua obra mais importante: São Bernardo e Eles Não Usam Black Tie dividem os votos.

Entre os que tiveram filmes citados na pesquisa por títulos, há duas categorias distintas: os que têm uma obra completamente destacada das outras, como é o caso (talvez injustamente) de Rogério Sganzerla, que deve 57 das suas 68 citações ao Bandido, Ruy Guerra (Os Fuzis tem 25 das suas 35 lembranças), o próprio Humberto Mauro (Ganga Bruta tem 28 dos 34 votos) ou o caso limítrofe (sem trocadilho) de Mário Peixoto que, com apenas um filme realizado, fica entre os 5 diretores mais filmados graças aos votos de Limite. Entre os outros, embora um filme esteja mais à frente, há pelo menos uma outra obra destacada, como é o caso de Roberto Santos (com Matraga com 25 e Grande Momento com 10), Luiz Sérgio Person (com os 27 votos de São Paulo S/A seguido dos 6 do Caso dos Irmãos Naves) e ainda Joaquim Pedro de Andrade que teve 7 filmes lembrados, sendo 4 com mais destaque, e 3 curta metragens. Por último deve-se destacar o nome de Eduardo Coutinho, porque assim como seu Cabra Marcado representa o filme mais recente na lista de 20, a votação de seu Santo Forte, um filme de 1999, empresta à sua obra a força da contemporaneidade.

Este grupo de 12 cineastas destacados pode ser considerado o cerne do cinema brasileiro, tendo entre eles 8 nomes ligados ao Cinema Novo, 2 ao cinema underground, um que pode ser considerado o "pai" de todos (Mauro), e um caso à parte, como sempre foi considerado Mário Peixoto.

Nos nomes que vêm a seguir, pode-se ver com bons olhos um outro realizador de geração mais recente (Hector Babenco), e com alguma surpresa alguns nomes do cinema marginal que se mostraram donos de carreiras respeitáveis, como Carlão Reichenbach e Ozualdo Candeias, cada um com 8 diferentes títulos lembrados, e José Mojica Marins, com 6. Bem perto de outro nome do Cinema Novo, Jabor, e na frente de pilares como Walter Lima Jr, Cacá Diegues e Paulo Cezar Saraceni. A partir daí há alguns fatos a serem notados: o surgimento de Carlos Manga como maior destaque das chanchadas, mas ainda assim com apenas 13 lembranças para uma carreira riquíssima; a pouca importância dada ao trabalho de Walter Hugo Khoury, destacado em pesquisas mais antigas; a única mulher citada com mais de 5 votos, Ana Carolina; e os nomes de e Sérgio Bianchi como destaque entre os realizadores surgidos na década de 80 e o de Walter Salles como principal da geração dos anos 90, disparado.

Eduardo Valente

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Glauber Rocha: 150 citações

Nelson Pereira dos Santos: 118 citações

Rogério Sganzerla: 68 citações

Joaquim Pedro de Andrade: 68 citações

Mário Peixoto: 60 citações

Eduardo Coutinho: 52 citações

Leon Hirszman: 47 citações

Júlio Bressane: 36 citações
 
Roberto Santos: 36 citações
 
Luiz Sérgio Person: 35 citações
 
Ruy Guerra: 35 citações
 
Humberto Mauro: 34 citações

Hector Babenco: 25 citações

Arnaldo Jabor: 24 citações

Carlos Reichenbach: 23 citações
 
Ozualdo Candeias: 21 citações
 
José Mojica Marins: 21 citações
 
Walter Lima Jr.:20 citações
 
Cacá Diegues: 19 citações
 
Paulo César Saraceni: 17 citações

Walter Salles: 17 citações
 
Andrea Tonacci: 15 citações
 
Roberto Farias: 14 citações
 
Carlos Manga: 13 citações
 
Anselmo Duarte 11 citações
 
Walter Hugo Khouri: 11 citações
 
Domingos de Oliveira: 10 citações
 
Ana Carolina: 9 citações
 
Maurice Capovilla: 9 citações

Sérgio Bianchi: 9 citações

Arthur Omar: 8 citações

Ivan Cardoso: 7 citações

Watson Macedo: 6 citações

Carlos Alberto Prates Correia: 6 citações

José Carlos Burle: 5 citações

Luiz Rosemberg Filho: 5 citações