E
Viva a Diversidade!
Uma crônica

Nossa! Puxa vida, quantos filmes – são
400! Todos ali nos esperando, aguardando para ser vistos – filmes de todo
o mundo, de todo canto, de toda língua... E viva a diversidade!
São japoneses, argentinos, chineses, canadenses, franceses, brasileiros
(e muito mais...): um filminho de cada lugar, com a cara de cada lugar...
Com a cara de todo lugar. Com a mesma cara!? Com a mesma cara.
Assisti a 35 filmes no Festival do Rio e
a impressão que tive foi a de muito pouco ter saído do lugar.
Com raríssimas exceções, o que vi foram réplicas
exotizadas de uma mesma fórmula envelhecida.Ou melhor: pensam alguns
(eu incluído) que trataria-se de uma fórmula gasta e envelhecida
– porém, ao que pude ver no Festival do Rio BR 2000, grande parte
dos realizadores de cinema no mundo (400 filmes!) acha mesmo muito interessante
aquela velha historinha do herói, do dramalhão e do final
reformador de almas... Pois bem, que essa fórmula esteja então
ainda viva e como nunca renascida em papagaiadas formais como o Time
Code de Figgis – que esta fôrma seja inevitável ao Festival
(já que é esse mesmo o cinema hoje produzido no mundo...).
Pois então, para quê todo esse trabalho? Não é
preciso Festival algum – a grande massa dos filmes é como os filmes
de todo dia... E todo dia é como todo dia, só que sem jujubas...
Quanta parafernália, quanto carrega
cópia única pra cá, carrega cópia única
pra lá – para quê? Que importa se o filme é Gay ou
de Israel se o que é visto não passa de uma grande repetição
do mesmo... Quantos filmes "norte-americanos" são vendidos
como diversidade só por que têm no lugar do protagonista
um marroquino, um tunisiano, um brasileiro... Palhaçada e diversão
– essa de se sentar numa sala de cinema para ver as réplicas obtusas
dos mesmos filmes de sempre... E por isso o Festival é cult, é
antenado, é democrático?! - vejamos como a diversidade é
monótona! Não adianta falar em filmes da Malásia,
na mostra Digital, nos filmes de Pontecorvo – perdidos nesse mar de diferenças,
tudo fica com cara de atração exótica de circo...
O que é que sustenta a produção destes filminhos
refugos? Não agüento mais ver chinesinhos em dramalhões,
não agüento mais ver francesinhas fazendo comercial de cigarro
cool... Por que toda essa máscara? De que serve o esforço
para termos acesso a isso?
Queiramos os Festivais, queiramos a diversidade
– mas que esta se expresse não só na estampa dos selos postais
das cópias enviadas, não só nos olhos puxados e na
cara amassada de uns e não de outros... Uma diversidade de cinemas
e não de endereços... Existem filmes cuja representação
realmente se diferencie do que o mercado engole diariamente sem nem mastigar?
Existem. Talvez não 400 por ano, talvez se procurarmos com mais
cuidado...
Pois se a proposta é fazer um Festival
de pré-estréias, não finjamos que estamos pensando
cinema, não finjamos estar num espaço diferente de qualquer
outro complexo cinematográfico... Se a idéia (de um lado)
é comprar pipoca e se divertir pura e simplesmente, e (do outro
lado) é ganhar dinheiro vendendo imagens, então que seja
isso; mas que tenhamos vergonha na cara para admitir...
Felipe Bragança
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