Os
Melhores filmes: visão subjetiva

No Quarto da Vanda foi o filme mais citado
pelos redatores de Contracampo: 5 menções
Daniel Caetano
1. O Padre e a
Moça
2. O Armário Corajoso, surpreendente, criativo, despojado.
O Armário é um filme contra a corrente, e justamente por isso completamente
inserido na sua época. Um pouco Buñuel, muito cinema novo, incrivelmente
político, profundamente amargo, bastante engraçado, merece atenção.
3. No Quarto da Vanda Os mesmos quatro adjetivos para justificar
O Armário valem para este aqui. Outros poderiam ser lembrados,
os filmes de Bigas Luna ou Tim Robbins, por exemplo, são igualmente corajosos,
e infinitamente mais sedutores. Entretanto, No Quarto da Vanda
é inovador, arrisca-se como poucos. Só este motivo já torna menor qualquer
um dos seus defeitos.
Eduardo Valente
Festival do Rio:
No Quarto da Vanda (Pedro Costa) – disparado o mais
radical experimento cinematográfico do Festival, um ensaio sobre
as possibilidades e complicações da câmera digital
e sobre a degradação e o sublime do ser humano.
Cradle Will Rock (Tim Robbins) – Robbins realiza constantemente
a obra mais abertamente política da Hollywood dos anos 90. Sua
ode ao socialismo vem embrulhada no mais completo domínio da gramática
cinematográfica, e no trabalho excepcional de seus atores.
A Maja Desnuda (Bigas Luna) – Bigas Luna pega uma história
de intrigas da côrte e assassinato e basicamente torna-a um ensaio
sobre o poder do sexo, e como na verdade são os instintos mais
básicos que fazem as nações andarem.
Mostra de São Paulo:
Branca de Neve (João
César Monteiro) – ultrapassa a fronteira do nome "filme"
e atinge o status de verdadeira experiência sensorial. Uma ode ao
lúdico, ao prazer infantil de ser embalado por um conto de fadas
no escuro, mas também um estudo sobre as aparências e o que
escondem da essência.
Liberdade (Sharunas Bartas) – uma experiência de tempo, fotografia
e montagem, completa com O Fantasma uma reflexão sobre o
Homem reduzido ao seu estado mais animal. Desvenda a paisagem nos closes
de um homem, e cria a noção de planos-filme (ao invés
de planos-seqüência).
Código Desconhecido (Michael Haneke) – em pleno ano 2000,
todas as referências se perdem. Um filme sobre a confusão
que é estar vivo hoje, sobre as contradições e estranhezas
do dia a dia, a violência, mas também o amor. Não
saber interpretar os códigos desconhecidos que nos cercam.
Felipe Bragança
A Humanidade – os planos estáticos,
a angústia das imagens e a sensibilidade com que Dumont filma seus
personagens faz desse filme uma perplexa e instigante reflexão
sobre os atos humanos...
Rosetta – um filme político microcósmico,
cuja câmera persegue cruelmente sua personagem e a cerca em suas
tentativas de sobrevivência... Os diretores fazem política
através de uma crítica sensibilizada e íntima ao
dia-a-dia de uma pequena trabalhadora francesa...
In The Mood For Love – uma narrativa
atemporal, uma história em que imaginação e realidade
são frutos dos sentidos dúbios de suas personagens... Um
filme baseado na ausência, no que não se vê... Um precioso
exercício de criação que desafia o olhar do espectador.
Fernando Veríssimo
Rosetta, dos
irmãos Dardenne Porque não há redenção, esperança ou ética possíveis
para um excluído na Bélgica de hoje.
Bom Trabalho,
de Claire Denis Porque a um corpo inútil submetido a disciplina
militar corresponde necessariamente um espírito turbulento e frágil.
A Prisioneira,
de Chantal Akerman Porque a beleza (feminina/cinematográfica) não
resiste a grilhões.
Juliano Tosi
No Quarto da Vanda,
Rosetta e Yi Yi: talvez não os três melhores filmes do festival,
mas antes os filmes mais inspiradores, mais livres e que melhor representaram
um possível contrapé ideológico à produção corrente e ao vácuo cultural.
A se notar: todos os três filmes, realistas, podemos dizer, colocam em
causa a militância da imagem: a própria fatura de Vanda, a recusa
ao espetáculo de Rosetta e a consciência sabiamente "incompleta"
de Yi Yi.
Marina Meliande
A Humanidade de Bruno Dumont
Um
filme necessariamente lento, compatível com toda a perplexidade
que persegue sua narrativa. Um estado de perplexidade que é tanto
de seu personagem quanto de seu espectador. Uma beleza que vem da violência
contida do filme.
In The Mood For Love de Wong Kar-wai
É de uma temporalidade ambígua, a possibilidade acima da
certeza; o encontro de duas pessoas que são outras duas. A não
escolha de um amor que vem pela escolha do outro.
No Quarto da Vanda
de Pedro Costa A imobilidade e a repetição também
podem fazer parte da linguagem digital. No Quarto da Vanda é
justamente sobre a possibilidade de não ter algo para se ver, além
da própria angústia do cotidiano. O indivíduo é
suas pequenas ações.
Ruy Gardnier
O melhor filme
dos dois festivais:
Yi Yi (As Coisas Simples da Vida), de Edward Yang Yi
Yi, um depois o outro. Se visto como uma crônica do cotidiano, um
filme mediano. Se visto como tese sobre a existência, é o
mais belo elogio à vida que o cinema dos últimos anos pôde
dar.
Festival do Rio:
A Prisioneira, de Chantal Akerman Oliveira + Eyes Wide
Shut = todo o cinema que você poderia imaginar. Akerman nos
dá a experiência mais bonita, o cinema mais rigoroso do Festival
e a beleza mais distanciada.
No Quarto da Vanda, de Pedro Costa Pedro Costa nos entrega
a mais fascinante ousadia do cinema contemporâneo. Alguém
inclusive poderia dizer, com propriedade: "Isto não é
cinema!" E, olha, falando sério, esse seria provavelmente
(e acidentalmente) o maior elogio já feito ao filme.
A Humanidade, de Bruno Dumont A esperança de Dumont
na redenção de seus personagens pela inocência é
comovente. Mais que cinema religioso, ele pratica um cinema da desesperada
religiosidade: só poder alcançar o absoluto por meio da
transgressão que seu personagem jamais será capaz de fazer.
Mostra de São Paulo:
Chunhyang Amor Proibido, de Im Kwon-taek O pansari,
relato cantado de uma história ancestral, estende a narrativa em
dois planos, o do cantar e o da história. O canto firme e melodioso
do cantor de pansari é o mesmo da música da direção
de Im Kwon-taek, maviosa e majestosa.
In The Mood For Love, de Wong Kar-wai Wong parte para o
passado para rebalizar sua estética (muito menos frenética
do que nos filmes anteriores) e mostrar que se pode fazer cinema de verdade
apoderando-se dos procedimentos um tanto frívolos da estética
moderninha.
Branca de Neve, de João César Monteiro Cinema
da crueldade através do sarcasmo? A única coisa certa a
respeito de Monteiro é que trata-se de um dos autores mais livres
do cinema contemporâneo. "Does Humour Belong In Movies?"
Definitivamente. Porque, pasmem!, é o humor que vai acabar com
o juízo de Deus. De João de Deus.
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