As Virgens Suicidas,
de Sofia Coppola


The Virgin Suicides, EUA, 1999

A senhora da fila do cinema pergunta que filme vai passar e reage: se virgem já é chata, suicida então… O que se esperar de um filme cujo título é no minímo curioso?

Em sua estréia, Sofia Coppola faz um filme teen que foge um pouco do padrão "jovens virgens descobrem sexo, drogas…". Cinco irmãs adolescentes lindas e loiras suscitam desejos e paixões nos meninos da região, fascinados pelo mistério de uma família cuja proximidade é muito restrita.

Com uma narrativa saudosista, um dos meninos recria deslumbradamente, para nós espectadores, toda mística que ele, como voyeur, viveu como vizinho da família Lisbon em sua juventude. Uma memória idealizada dos tempos de colégio, "tempos sempre felizes", apesar de toda tragédia que envolve essa fábula. O que isso tem de diferente? Cecília, a caçula de treze anos da "família feliz", comete suicídio, logo nos primeiros minutos do filme.

O falso equilíbrio da família é quebrado; uma família que queria se bastar por si própria, onde há um vazio enorme que não pode ser preenchido. A desestruturação dela a partir daí é cada vez mais acentuada, numa narrativa que levanta constantemente porquês. Um dos grandes méritos do filme, que por si só já o diferencia de seus companheiros do gênero teen, é não pretender respondê-los. É não pretender fazer uma radiografia da família classe média americana dos anos setenta, porém, isso fica só na intenção.

O filme acaba sugerindo respostas por ser pouco descritivo. A complexidade da situação não é desenvolvida, justamente porque a diretora tenta experimentar este olhar distanciado do narrador. Sofia Coppola fica portanto, em um meio termo narrativo, um olhar indeciso que não se posiciona quanto a sua parcialidade. Há um narrador envolvido com a história ou simplesmente uma visão objetiva de fatos? O resultado disso enfraquece imensamente o filme, que não consegue ser nem uma fábula, nem uma crônica. Reduz as angústia das, agora, quatro irmãs, a uma mera revolta adolescente, justificada pelo intenso isolamento e repressão que sofrem dos pais. Mesmo assim vale o ingresso.

Marina Meliande