O Silêncio Depois do Tiro,
de Colker Schlöndorff


The Legends Of Rita, Alemanha, 1999

Um dos aspectos mais impressionantes do cinema (talvez do povo) alemão é sua frieza, que cria um distanciamento (não por acaso, Brecht veio de onde veio) muitas vezes involuntário, no qual o espectador se sente dissecando um personagem, um filme, um momento. No caso deste filme mais recente do diretor do clássico O tambor (também um filme bem frio), esta frieza acaba sendo seu maior trunfo e, ao mesmo tempo, sua grande falha.

Durante a primeira hora, pelo menos, a pergunta que não sai da cabeça é: Porque estamos assistindo este filme? Aonde está o diretor tentando chegar? Até aí, a frieza é um mecanismo interessante, pois o racionalismo que ela incentiva ajuda a manter o espectador curioso. A partir do momento em que se revela o verdadeiro centro nervoso do filme, a frieza assume o seu lado problemático, pois o fato é que o filme espera do espectador um envolvimento emocional que ele simplesmente não consegue proporcionar.

Tematicamente, o mais fascinante aspecto do filme é o retrato histórico de uma situação pouco conhecida: terroristas que agiam na Alemanha Ocidental, contra o capitalismo reinante, e que, uma vez exilados na socialista Alemanha Oriental, acabam sendo tratados também como párias, porque seu comportamento extremista é visto como desinteressante ao reconhecimento mundial ao país. Neste contexto, seguimos a história de Rita Vogt, uma terrorista que é obrigada a assumir diferentes personalidades na Alemanha Oriental, após sua fuga da parte ocidental.

Apenas quando ocorre esta virada no filme é que percebemos que seu verdadeiro tema é este: a indiferença de ambos os regimes (capitalista e socialista) ao arbítrio de uma pessoa sobre sua própria vida. O que podia render um estudo sobre a perda de identidade ou a necessidade de se reinventar acaba perdendo força, pois as diferentes fases da vida de Rita passam como rápidas cenas costuradas por corajosas elipses temporais. Com isso, em nenhum momento o espectador sente especial empatia por nenhuma destas vidas. Quando chegamos ao final (cujo último plano maldosamente explica o título em português), a sensação é de uma boa, mas chata, e perigosamente esquecível, aula de história mundial.

Eduardo Valente