Tesoro
Mio,
de Sergio Bellotti
Tesoro Mio,
Argentina, 1999
Sem dúvida, um filme
bizarro. Primeiro, tematicamente: Bellotti realiza um tipo de "Beleza
argentina", ou seja, uma sátira à família média argentina, à rotina de
trabalho, família e sonhos da classe média. Claro que muito mais "caliente",
como convém a um latino, seja nas cenas de sexo, seja no tratamento dos
personagens, que se aproximam muitas vezes dos cânones do melodrama. Depois,
esteticamente: o filme possui uma fotografia estilizadíssima, cheia de
filtros que alteram e exacerbam as cores e criam um forte jogo de luz
e sombras. O porquê disso nunca fica claro, pois nem se cria um visual
excessivamente bonito (o que poderia ser uma sátira), nem estranheza suficiente
para se perceber no visual uma indicação de que há algo por baixo daquela
situação. Fica sendo só uma fotografia diferente, neste sentido, quase
publicitária.
No entanto, o mais
estranho aspecto talvez seja mesmo a história, a narrativa. Simplesmente
o diretor parece não fazer a menor questão de criar uma linha efetivamente
funcional. Há personagens (como a filha, ou como o amigo que dá um golpe,
ou como o tesoureiro do banco onde o protagonista trabalha, ou ainda um
barco cuja presença nunca se entende) que parecem que vão ganhar tintas
mais fortes e importância, apenas para sumirem em seguida. Da mesma forma,
se insinua o tempo todo uma trama no banco que acaba completamente mal
resolvida. A narrativa, ao invés de repetir clímaxes, parece trabalhar
em anti-clímax após anti-clímax. E o resultado é inevitável: uma reflexão
sobre a chegada da meia-idade e da vida em família que não traz absolutamente
nada de novo, e só cansa o espectador ocupado de uma mostra.
Eduardo Valente
|
|