Peppermint,
de Costas Kapakas
Peppermint, Grécia,
1999
Uma imagem é
recorrente desde o início do filme: um homem dirige um carro, pensativo.
Aquilo que ele pensa nos é mostrado nas imagens em flashbacks
que nos contarão, aos poucos, toda a vida desse homem, da infância
até o momento atual. Surgem então os melhores momentos do
filme, quando uma criança sapeca brinca, encontra a amiguinha para
fazer travessuras, descobre a sexualidade, etc. A direção
do filme é curiosa: sendo o primeiro filme de um diretor de quase
50 anos, alguns momentos de encenação e escolha de planos
são muito inventivos, quase desajeitados. Todavia, à medida
que o filme passa, ele vai perdendo em graça e vai cedendo às
fórmulas fáceis do melodrama e do amor eterno, redundando
no fim do trajeto do motorista: uma festa em que ele reviverá as
lembranças do passado e em que descobrirá que a sua vida
deve mudar e sua paixão será reencontrada.
Apesar do desenvolvimento
burocrático, Peppermint tem ao menos uma cena paradigmática:
em determinado momento, o protagonista repete um comportamento de 20 anos
antes. Ele sai da sala de estar da festa em que está e passa a
abrir uma a uma as portas da casa. Onde ele antes via os excessos da juventude
casais no amasso, uma menina passando mal , agora ele vê
o retrato da esterilidade social uma criança jogando paciência
no computador, uma empregada uniformizada empacotando comida, uma senhora
retocando a maquiagem. Se nos festivais é tão comum haver
imagens passageiras, ao menos essa imagem é uma imagem que (no
meio de tantas outras fugidias) fica.
Ruy Gardnier
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