Paraíso – Sete Dias Com Sete Mulheres,
de Rudolf Thome


Paradiso - Sieben Tage mit Sieben Frauen
, Alemanha, 1999

Rudolf Thome é um daqueles diretores de cinema cujos filmes habitam um universo muito particular. Se você já viu um filme dele, já sabe bem em que tome e temas se desenvolverão os outros. Há aqueles que gostam muito e aqueles que odeiam o seu cinema.

O que não se pode negar neste universo que ele cria é seu ambiente quase zen. Todos os filmes de Thome são sobre os relacionamentos entre homens e mulheres. Todos eles possuem uma forte relação com a natureza, e todos eles têm um olhar extremamente espiritual de todo o processo amoroso. Não que os personagens necessariamente possuam este olhar, mas sim o próprio diretor. São filmes onde a contemplação e os prazeres da carne (e aí não incluo só o sexo, mas também o comer, o beber, a arte, o ócio) possuem importância central.

Neste sentido, talvez este Paraíso seja seu filme mais radical. Pode-se afirmar que quase nada acontece ao longo de sua duração. Um homem completa 60 anos, e para comemorar recebe as sete mulheres mais importantes de sua vida (inclusive sua atual esposa) e seus filhos (inclusive um que não via há 30 anos). Num primeiro momento, pensando-se com um olhar clássico de narrativa, antevê-se conflitos de gerações, brigas, catarses, ciúmes exacerbados, acertos de contas. Mas, só pensa isso quem não conheça Thome. Pois o que o filme mostra são basicamente 15 seres humanos passando sete dias de harmonia com a natureza, com a arte, e consigo mesmos. Claro, conflitos chegam a aflorar, mas todos são superados muito rapidamente. Não é, de forma alguma, um cinema ingênuo que só vê a harmonia na vida. É sim um cinema hedonista, espiritual e humano, que acredita que, aconteça o que acontecer, a vida deve ser aproveitada.

Neste filme específico, Thome adiciona alguns novos elementos, como a reflexão sobre envelhecer (fazer 60 anos), a Internet, as relações entre diferentes esposas. Mas, no geral, é o mesmo Thome de sempre, fazendo seu cinema essencialmente alemão, que consegue ser frio e emocional ao mesmo tempo. Um cinema que, mesmo sendo realista e humanista, não vê nisso uma algema para a transcendência.

Eduardo Valente