Pantaléon e as Visitadoras,
de Francisco Lombardi


Pantaléon y las Visitadoras, Peru, 1999

A idéia do filme, que vem do romance de Vargas Llosa, é brilhante: colocar um disciplinadíssimo militar para organizar um serviço de prostituição voltado aos soldados das regiões amazônicas isoladas, para mantê-los menos na "secura" evitando assim ataques sexuais a moradores da área. A junção da ordem do militar com a permissividade do meio onde vai trabalhar permite uma comédia não apenas hilária, mas cheia de duplos sentidos e mensagens. E assim o filme começa, numa primeira hora que remete ao melhor da comédia e do cinema latinoamericano em geral. Há inteligência, beleza, sexo, ironia.

Infelizmente, antes do final, o diretor Lombardi cai vítima de duas graves moléstias. Primeiro, o excesso de tempo para falta de assunto. Ou seja, há uma quantidade grande, mas limitada, de piadas possíveis a partir desta situação. Ele extrapola completamente o tempo, perde o "timing", como se diz, algo imperdoável em comédia. Mas, se isso faz o filme menos empolgante, não o compromete. O que o faz é sua meia hora final, aonde completamente envolvido pelo fato de que os andamentos da história o colocam numa certa encruzilhada, Lombardi joga tudo para o alto e apela, em sequência, para três lamentáveis subterfúgios. Primeiro, um "deus ex-machina" primário, através do qual ele soluciona da forma mais preguiçosa possível o destino dos seus personagens. Depois, uma completa reestruturação psicológica de seu personagem principal, que de repente mostra facetas quase psicóticas das quais não havia pistas anteriores. E, finalmente, um moralismo impressionante que não poderia se esperar de forma nenhuma pelo tratamento inicial do tema da prostituição. Com isso, em um pequeno espaço de tempo ele quase joga fora todo o bom filme que construiu antes. Mesmo assim, não consegue de todo, pois do confronto entre militarismo e permissividade ficam várias piadas antológicas, diálogos inteligentíssimos, além é claro de todas as imagens de Angie Cepeda como a prostituta mais bela, uma mulher de uma beleza e de um "sexy appeal" quase surreais. Um filme que supera na lembrança o desastre que seu diretor tenta perpetrar.

Eduardo Valente