O
Pequeno Ladrão,
de Erick Zonca
Le
Petit Voleur, França, 1999
Erick Zonca é
um diretor interessante. Em seu filme anterior, A Vida Sonhada dos
Anjos, tentava fazer, sem pretensões, uma espécie de
retrato da juventude francesa atual: globalizada e desempregada, com dificuldades
de relacionamentos afetivos, individualista e solitária … Um olhar
dentro do que se espera de filmes que tentam falar de qualquer jovem pós
moderno e, ao mesmo tempo, fazer uma crítica social. Mesmo assim,
havia uma sensibilidade da parte do diretor, que diferenciava seu filme
de estréia dos clichês que vemos por aí sobre a juventude
em geral.
Em seu filme mais
recente, O Pequeno Ladrão, Zonca parece perder essa sensibilidade
de vez. Faz seu filme sobre juventude-francesa-desempregada-em-tempos-globalizantes
de uma forma extremamente moralista, onde o lema "só o trabalho
dignifica o homem" é levado às últimas consequências.
Seu personagem principal
(que por sinal é interpretado por um péssimo ator) é
um garoto, que acaba de ser mandado embora de seu emprego em uma grande
padaria, por mau comportamento. Perdido, se envolve com uma gang e passa
a assaltar residências, lutar boxe para fazer parte da turma. Ser
aceito é o que importa, não importa onde. É humilhado
e maltratado. Até que faz uma besteira, é perseguido pela
gang e volta para seu trabalho na padaria. A criminalidade está
ao alcance de qualquer um que queira uma chance, ela é não
só uma alternativa para um desempregado mas também um lugar
para se aceitar aquele que não se encaixa em lugar algum, é
o recado do filme. Salvemos nossas crianças pós modernas
que sentem um enorme vazio no bolso e na alma; o trabalho como uma possibilidade
efetiva de resgate de uma dignidade, defende Zonca. Mas o vazio do menino
continua lá entre os pães que saem do forno. Não
há nada a fazer.
É uma pena
que o filme não deixe de ser esse clichê sobre juventude
marginal, e por isso mesmo, politicamente ineficaz. Apesar de seus apenas
65 min é um filme interminável: descritivamente duro. Faltou
sensibilidade e sobrou violência.
Marina Meliande
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