O
Jardim das Cerejeiras,
de Michael Cacoyannis
The Cherry Orchard, Chipre/França/Grécia,
1999
Um diretor de renome
(Michael Cacoyannis dirigiu Zorba o Grego e Stella), um
elenco de peso (Charlotte Rampling, Alan Bates, Katrin Cartlidge), uma
adaptação de Tchekov. Poderia dar errado? Claro! Em jogo
de cartas marcadas, só a preguiça prevalece. E a preguiça
do diretor Cacoyannis está presente em todo esse Jardim das
Cerejeiras. Preguiça em tentar encontrar uma aproximação
mais pessoal do trabalho, preguiça de dirigir os atores sem fazê-los
sair do registro do teatro filmado, mas acima de tudo preguiça
em ler o texto de Tchekov sem perceber as fortes nuanças de mudança
de classe no poder.
O Jardim das Cerejeiras
narra a decadência de uma família aristocrata na Rússia,
família cujo jardim de cerejeiras o símbolo da imponência
social havia sido citado na Enciclopédia de Diderot e d'Alembert.
Coloca em cena as diversas posições sociais da época
e seus conflitos: a bastarda mandona e infeliz, o preceptor-artista que
recusa a nova sociedade burguesa, o novo rico que quer destruir o jardim
das cerejeiras, a velha e fútil senhora aristocrata, a nova e gentil
filha, etc. Cacoyannis comete o pecado original: ao invés de dar
foco às relações (como fez Visconti na obra-prima
O Leopardo, obra de Lampedusa que guarda diversas semelhanças
com a peça de Tchekov), ele o dá aos personagens. Assim,
ele consegue fazer desse filme um verdadeiro dinossauro, uma obra que
não tem mais sustentação nos dias de hoje e que está
fadada à destruição pelo fato de não mais
ser necessária a ninguém. O Jardim das Cerejeiras parece
ter sido feito por um homem cansado, por um homem de cem anos. E antes
que se diga, há ao menos um homem de cem anos que filma como se
fosse uma criança: Manoel de Oliveira. Cacoyannis deveria ter se
inspirado nele.
Ruy Gardnier
|
|