Meu
transumano,
de Eric Klint
My Transhuman, Bélgica,
2000
Existem algumas coisas muito estranhas sobre
este filme. Talvez a principal delas seja sua inclusão na Mostra,
pois a bem da verdade ele parece um episódio de uma série
documental de TV, digamos um Globo Repórter mais inteligente, um
programa da GNT. É claro que a atualidade do tema mais que justificaria
todas as reflexões que ele pede, pois discute as alterações
rapidíssimas de tecnologia que passam pela informática,
genética, biologia, neurologia, cibernética, traçando
um painel sobre as perspectivas futuras e os desenvolvimentos atuais,
e suas consequências sobre todas as noções que nos
regem, desde vida e morte, passando pela idéia de corpo, alma,
existência, identidade, comunicação. Chega a ser bastante
assustador o retrato que alguns dos entrevistados traça com relação
à rapidez da chegada de alterações que a maioria
dos seres humanos estão completamente alheios.
O problema principal do filme, porém,
é seu formato. Dividido em temas, cada um centrado na entrevista
de um profissional, o filme se dispersa numa quantidade tão grande
de perguntas e informações que se sucedem, que fica difícil
assimilar de fato o que está sendo dito. Mais ainda, o que se diz
pede muita reflexão e desenvolvimento, pois possui implicações
práticas e filosóficas, e não há tempo no
filme, seja para os entrevistados desenvolverem de todo seus temas, seja
para o espectador refletir. Na verdade, cada um dos depoimentos (desde
um neurocirurgião que fala coisas impressionantes sobre o funcionamento
do cérebro e sua reprodução num meio eletrônico
até um etnobotânico - !!) merecia os mesmos 82 minutos de
duração. O que faz crer, em suma, que de fato como uma série
de programas a partir do tema o filme faria muito mais sentido. Como está
é uma plataforma de lançamento de idéias que não
se concluem de todo. Mas certamente instigam, e fazem pensar que mundo
é esse onde uns não têm o que comer enquanto outros
podem estar discutindo questões tão completamente avançadas
tecnológica e filosoficamente.
Eduardo Valente
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