Fidelidade,
de Andrzej Zulawski
La Fidelité, França,
2000
A última meia hora da longa projeção
de Fidelidade (170 min) causou gargalhadas no público na
última 4a feira (11/10), tamanho é o descompasso
narrativo que ali se explicita... A fracassada tentativa de fazer de Fidelidade
uma espécie de melodrama autoconsciente (com passagens que ridicularizam,através
do patético, a própria trama) resultou em apenas mais um
filme moderninho cheio de nuanças e ritmos desencontrados.
Fidelidade parece não saber aonde
quer chegar e, em sua multiplicidade, permanece no mesmo lugar. Aliás,
a sensação é a de ter assistido a uma seqüência
de filmes ingênuos, passeando por diversos gêneros, cuja unidade
está apenas na figura sempre melosa de Marceau: Seus olhinhos úmidos
e sua boca trêmula encantam nos primeiros planos mas depois... Sua
personagem chora tantas vezes durante o filme e por tantos motivos diferenciados
que a certa altura, por repetição, aquilo não faz
mais qualquer sentido. Isso também acontecendo com a perda da expressividade
da trilha musical, da participação dos atiradores terroristas,
das fotos das personagens...
O filme parece querer mesclar diálogos
cheios de ironia existencialista (como os de certos filmes da Nouvelle
Vague) com elementos contemporâneos da cultura pop individualista
– o que faz com que seus personagens acabem por viver em um mundo de desprezo
mútuo, onde todos se desconsideram embora digam que se amem. Um
discurso que não é pensado ou criticado pelo filme, mas
que é a voz do próprio filme – como um compêndio do
que há de mais odiável na assepsia ideológica que
caracteriza o pensamento prafrentéx da atualidade. Tudo no filme
se trata das vontades, do desejo e dos gestos expontâneos como uma
espécie de espiral melodramática farsesca que (ao contrário
da crônica auto-reflexiva instigante encontrada em alguns filmes
da Nouvelle Vague) cai no lugar comum do blábláblá
da liberdade e da expressão...
Como foi que Zulawski não percebeu
que tentar dar carne e osso melodramático a uma trama que ele mesmo
trata, por todo o filme, como uma grande farsa, seria um fracasso? O espectador
sai do filme após ter recebido um canhão de informações,
personagens e narrativa mas, curiosamente, parece não ter assistido
a nada. Sobre o que trata o filme, sobre quem trata o filme, do que o
filme fala, o que acontece no final?... Nada seguido de nada.
Uma mistura de propaganda de cigarro cool
com crônica anti-moralista ultrapassada.
Felipe Bragança
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