Doce
Agonia,
de Ali-Reza Davudnezhad
Masaen-e
Shirin, Irã, 1999
Entre
as várias vertentes do moderno cinema iraniano que temos podido acompanhar,
uma das mais fortes diz respeito à metalinguagem. Principalmente no trabalho
de Mohsen Makhmalbaf, mas também presente em alguns filmes de Abbas Kiarostami,
ou ainda em exemplos como O espelho ou A maçã. Doce Agonia
começa prometendo uma filiação direta a esta linha, brincando com a idéia
do ator-personagem, tão comum no cinema iraniano e no trabalho com não-profissionais.
Porém, esta linha não é seguida ao longo do filme. Se isso representa
uma vantagem, pois a bem da verdade o início parece um pouco forçado e
pouco criativo diante dos exemplos já vistos, por outro lado o filme acaba
caindo numa vala comum, da qual não consegue fugir e ganhar força por
si.
O tema
principal aqui é o do conflito de gerações, através de um Romeu e Julieta
às avessas: os dois personagens são da mesma família, moram de frente
um para o outro, mas por isso mesmo seus pais (e avó) não querem sua união.
O fator interessante do roteiro é que, quando crianças, os pais incentivavam
suas brincadeiras de marido e mulher. Uma vez crescidos, estes não querem
mais, mas os jovens "acreditaram". Toda a narrativa se dá em torno das
discussões entre livre arbítrio e orientação familiar (tema sempre presente
no Irã), e nas tentativas dos jovens de convencerem os pais. O registro
é o da comédia dramática típica, alternando cenas de alto teor de tragicidade
com outros de extrema graça.
No final,
há um retorno ao início metalinguístico que parece indicar na verdade
uma dificuldade em se fechar a narrativa, pois as questões com certeza
não podem ser resolvidas satisfatoriamente no nível dos personagens. Com
isso, o filme fecha como foi ao longo de toda a projeção: irregular, mas
simpático.
Eduardo Valente
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