Djomeh,
de Hassan Yektapanah


Djomeh
, Irã, 2000

Havia uma piada corrente entre os espectadores da Mostra em relação aos filmes iranianos deste ano: na falta de um novo Kiarostami ou Makhmalbaf, foram mandados filmes de todos os filhos e assistentes deles. Uma certa maldade, já que havia nomes já mais conceituados como Jafar Panahi ou com grande currículo, como Dariush Mehrjui. Mas, por outro lado, há muito de verdade na frase, pois todos os outros filmes parecem ter sido feitos com um dos dois mais conhecidos cineastas iranianos em mente. Alguns, mesmo assim muito bem sucedidos, como O Dia em que me Tornei Mulher ou Tempo de Embebedar Cavalos. Outros, menos interessantes como Doce Agonia ou O Sussurro. Este Djomeh se coloca num completo meio-termo: possui características elogiosas e originais, mas parece muitas vezes mais um subproduto do estilo dos mestres.

No caso, especialmente de Kiarostami, de quem o diretor foi de fato assistente. Ele parece seguir à risca alguns dos mandamentos do mestre, e certas cenas parecem completamente chupadas. Os passeios de bicicleta de Djomeh lembram muito um O Vento nos Levará ou um Onde Fica a Casa do Meu Amigo?, enquanto as longas conversas no carro parecem sair direto de Gosto de Cereja. A forma como as pequenas vilas e a paisagem desértica do Irã são mostradas ajudam também na comparação.

O que não se pode negar, porém, é que ele consegue dar alguma consistência, ainda que requentada, a seu filme. Joga um ingrediente novo e interessante, a questão dos imigrantes do Afeganistão no Irã, e sua difícil adaptação e aceitação. E monta uma trama que mistura a extrema simplicidade (uma história de amor impossível clássica) com a verdade de sentimentos e o humanismo do seu mestre. A relação entre patrão e empregado, desenvolvida nos tais passeios de carro, é cheia de nuances, e os tempos mortos carregados de poesia, tanto nos passeios de bicicleta como numa cena, por exemplo, onde vemos simplesmente uma xícara de chá encher até transbordar. O diretor consegue ainda criar algumas cenas com a magia que muitas vezes transborda em Kiarostami, como a cena de declaração de Djomeh a sua amada, e discutir temas de interesse universal como a natureza dos seres humanos ou sua relação com o amor. Em suma, um filme bastante honesto, mas que infelizmente vive à sombra de obras anteriores, o que talvez seja injusto, mas é inevitável.

Eduardo Valente