17
Anos,
de Zhang Yuan
Guo Nian Nui Jia, China,
1999
Em uma hora e meia,
17 Anos narra uma história simples: duas irmãs se
envolvem numa história de roubo familiar e acabam brigando. Na
briga, uma delas morre e a outra terá que cumprir dezessete anos
de prisão, depois dos quais ela deverá ser reencaminhada
à família. São então três momentos bastante
diferentes, filmados com uma secura que faz com que as imagens se assemelhem
a documentários, e ao mesmo tempo com uma fluidez narrativa impressionante.
É difícil
ver filmes que passam correndo à maneira como se lê contos.
Mas 17 Anos é um desses filmes. Depois de uma primeira parte
melodramática e um pouco fácil demais, o golpe fatal de
uma irmã na outra muda completamente o ritmo do filme. De um filmeco
chato bem filmado, ele se transforma num surpreendente relato quase documental
sobre culpa e passagem do tempo. Um segundo momento em que a irmã
assassina está na prisão é seguido do momento do
reencontro com os pais. Essa última cena, que dura demais e nem
parece, é filmada com uma frieza impressionante, uma frieza que
permite compreender todo complexo desencadear de sentimentos como
amar uma filha que matou uma outra filha sua? como esperar ser aceita
pela família depois do ocorrido? Como pode ser possível
que depois de dezessete anos uma família ainda possa existir como
antes? A beleza dessa cena vale todo o filme. Zhang Yuan não toma
partido, não privilegia um dos personagens nem filma uma das escolhas
mais do que outra. O que ele filma é justamente a indecisão
dessa família, esse momento em que é impossível se
decidir por uma opção porque todas as escolhas acarretarão
sofrimento. A câmara alcança seu momento sublime em que ela
não julga, ela apenas observa. E é isso que é verdadeiramente
belo nesse pequeno filme amável.
Ruy Gardnier
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