Depois da Chuva,
de Takashi Koizumi


Ame Agaru, Japão, 1999

Depois da Chuva era uma das grandes promessas do Festival por ter como roteirista Akira Kurosawa e como diretor estreante, Takashi Koizomi, um pupilo do grande cineasta japonês. A ficha técnica de Depois da Chuva não impede, porém, que ele seja comparado a um autêntico desenho da Disney.

Com a intenção de ser belo a cada quadro projetado, o filme busca enquadramentos bonitos e uma trilha sonora em equilibrio com eles, porém a direção não se esforça em sair do lugar comum. Uma direção certinha, pouco arriscada. Distanciada em momentos que parece se deslumbrar consigo mesma, um filme que se orgulha da própria beleza das suas imagens, da beleza das virtudes de seu personagem central.

Para completar, é uma fábula japonesa sobre um samurai desempregado que fica impedido pela chuva de atravessar o rio e seguir normalmente a viagem com sua mulher. Essa situação dá oportunidade ao personagem de mostrar aos espectadores o que ele faz em suas horas vagas: ajudar pessoas. Para isso ele será capaz até mesmo de lutar por dinheiro, algo altamente condenável para um samurai. A bondade acima da ética profissional faz desse personagem um verdadeiro mártir, capaz de perder um emprego por causa de seu passado íntegro.

O fime termina com uma lição de moral, que reduz o espectador à uma criança ingênua, obrigada a levar um ensinamento para a casa. Não devemos abrir mão das nossas convicções para sermos aceitos, de alguma forma seremos compensados por isso, nos dizem suas cenas finais. Qual é a diferença de Depois da Chuva para os contos dos Irmãos Grinn? Qual será a importância do samurai no Japão atual ? Qual era o seu verdadeiro papel no Japão arcaico?- pergunta a espectadora. É uma direção que se deixa tocar muito pouco por sua história, fica muito presa a seu aspecto de fábula, e cria uma enorme pergunta no espectador: e daí?

O grande problema de Depois da Chuva é querer ser uma história bonita. Tudo bem, não deve ser fácil ser um dos herdeiros de Kurosawa, mesmo assim, um desenho da Disney ainda é mais divertido.

Marina Meliande