De
Mulheres e de Mágica,
de Claude Miller
La Chambre des Magiciennes,
França, 1999
A
personagem central de De Mulheres e de Mágica é uma
estudante de antropologia, extenuada pelos estudos e por sua confusa vida
amorosa e familiar. Em função de uma crise nervosa, cujo
principal sintoma é uma intensa dor de cabeça, Claire acaba
por fazer um repentino retiro hospitalar... A partir desse ponto, Claude
Miller (de Ladra e Sedutora e A Acompanhante) passa a extrair
das especificidades de seu meio audiovisual (o filme é gravado
com câmeras de vídeo digital) uma dimensão onírica
fantasiosa que envolve todo o ambiente do hospital e seus personagens
(com destaque para a doente crônica Eleonore). Um ambiente de irrealidade,
de dimensão afastada da vida real... Aos poucos, essas imagens
acabam por se associar ao exotismo das imagens dos estudos antropológicos
de Claire e estabelecer um espaço místico, como o de um
ritual de passagem e transformação...
Embora
responsável por alguns momentos divertidos (como a cena em que
o enfermeiro negro canta um hino ritualístico enquanto urina em
um mictório) e outros de forte tensão (as caminhadas de
Eleonore pelos corredores desertos do hospital), essa associação
entre exotismo antropológico e distorção psicológica
do espaço acaba por se concluir num resultado um tanto quanto simplista...
O interessante uso do zoom digital e da mobilidade das levíssimas
câmeras de vídeo, acaba apagado por um roteiro que se amarra
num discurso lugar-comum e ultrapassado:
Após
algumas semanas no hospital, a personagem parece ter finalmente se descoberto:
Larga o amante, a antropologia, ignora os pais e a irmã que acabara
de dar a luz... Toda aquela tensão, toda aquela divertida fantasia
se conclui em apenas mais um filme anti-costumes, anti-moral, anti-rotina...
Claire é transformada em uma heroína que , através
da vivência com a loucura de Eleonore, vence as barreiras que sua
vida lhe impunha. Claire não busca transformar o que há
de negativo em sua vida, ela simplesmente vira as costas para tudo o que
havia construído até ali... Como se a dor de cabeça
fosse curada pela eliminação de sua própria vida,
Claire termina o filme sozinha com sua mala e sai do hospital. Mais uma
conclusão óbvia para um filme sobre o velho tema da descoberta
pessoal através do sofrimento (resumida no ridículo exemplo
da partida de tênis dada pelo novo médico de Claire – quem
viu o filme sabe do que estou falando...).
Em resumo: um lugar-comum
decepcionante.
Felipe Bragança
|
|