O Caminho de Casa,
de Zhang Yimou


Wo De Fu Qin Um Qin, China, 1999

Zhang Yimou, que fez sucesso por aqui com seu Lanternas Vermelhas (Da hong deng long gao gao gua, 1991), volta com um filme sobre o passado, sobre amor e sobre o eterno conflito juventude/velhice.

Luo Yusheng, um homem na casa dos 30, está de volta à aldeia natal por ocasião do enterro de seu pai. O lugar é pequenino, antigo e acessível apenas por cima de muita neve; a fotografia, em preto e branco, é impecável, apostando nos tons acinzentados e fugindo das cores estouradas, o que torna o vilarejo, todo coberto pela neve, o próprio retrato da melancolia.

Lá só restaram os velhos e o fato de sua mãe manifestar o desejo de que o marido seja enterrado conforme a tradição, i.e., carregado por homens a pé por todo o percurso do necrotério, na cidade, até o lugar do enterro, na vila, torna as coisas um pouco complicadas, pois que a tarefa é difícil – não há mais jovens ali, forma todos embora em busca de estudo e trabalho – e faz com que Yusheng pense na história de amor de seus pais, bem famosa: seu pai foi o primeiro professor da aldeia e sua mãe o amou desde o instante em que o viu.

O recurso usado pelo diretor nesse ponto é bem engenhoso e belo: o presente, na vila dos velhos, é preto e branco, lugar de melancolia, no sentido em que esta está associada à lembrança, ao que resta da juventude. E o passado, época esplendorosa, é mostrado em todas as cores, de modo assaz radiante.

Caminho de Casa é um filme que privilegia os detalhes – o que passou está crivado deles – exatamente porque é isso que sobra no caminho da vida que vai da juventude até a velhice: lembranças, reminiscências. E o caminho que trilha o filho, de volta para casa de volta ao que se passou entre seus pais, todo esse caminho que ele percorre é, no fundo, o caminho até seu coração.

E se o filme tem alguns poucos momentos fracos – meia dúzia de fades desnecessários – o momento final, que é o momento em que os dois mundos, passado e presente, velhice e juventude se tocam, se esbarram, mesmo que rapidamente, esse instante é maravilhoso. É o instante em que a mãe vê Yusheng, como seu marido fizera durante 40 anos, dando uma aula na velha escola; ainda que só por um dia, ainda que só uma vez, é a senhora vendo isso que desperta nela a reminiscência, a recordação, a saudade, isso que é tudo que a vida tem para nos deixar.

Juliana Fausto