Além
do Oceano,
de Tony Pemberton
Beyond
The Ocean, EUA, 2000
Filmes são como as
pessoas: podem padecer dos mais diferentes pecados. Alguns são mais facilmente
perdoados, outros não há quem dê conta. Entre os primeiros, podemos citar
a ingenuidade narrativa. Entre os últimos, o mau caratismo ideológico,
o fascismo. Pois bem, Além do Oceano sofre do que se poderia considerar
um pecado intermediário: não chega a ser um filme mal intencionado, mas
suas razões também não inspiram o perdão. O grande problema do filme,
afinal, é uma pretensão exacerbada, uma crença na sua capacidade de ser
"artístico", sem no entanto propor uma questão que seja que lhe empreste
alguma autenticidade ou originalidade, que dirá profundidade.
No início o filme
até pode enganar, com suas idas e vindas no tempo, mas logo o espectador
percebe o barco furado. No passado, fica claro que o diretor passou tempo
demais numa cinemateca vendo filmes de Tarkovski, e não entendendo nada.
A foto em p/b lembra muito A infância de Ivan ou Andrei Rublev,
ou mesmo os fragmentos de O Espelho em preto e branco. No entanto,
o que escapou ao diretor é que não basta colocar sua câmera no interior
da Rússia, filmar algumas imagens desconexas e figuras estranhas, para
achar que se está fazendo arte. Ele parece não Ter entendido que a poesia
de Tarkovski está não só na sua composição imagética, mas no diálogo entre
planos, e principalmente na capacidade evocativa de suas imagens, numa
mistura de sonho e passado que fica longe do filme. No presente, uma fotografia
de cores fortes numa Nova York principalmente noturna, com câmera ágil
e quase sempre na mão.
Em ambos os tempos,
apenas muito incômodo, nenhuma poesia, nenhum sentido, personagens absolutamente
patéticos e desinteressantes, e cenas verdadeiramente ridículas. O que
se pode lamentar mais é que, no fundo, a idéia do filme era boa. Mas,
se o diretor se preocupasse mais com a honestidade de sua proposta do
que em apresentar uma verdadeira "obra de arte" e em mostrar seu conhecimento
de história do cinema, o filme poderia ser plasticamente menos bonito,
mas certamente teria algum significado que fosse. Como está, é um exercício
vazio que não propõe, não renega e não constata absolutamente nada.
Eduardo Valente
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