5º
Festival Brasileiro
de Cinema Universitário
Um Resumo Particular
Mais do que parabéns,
a equipe de estudantes que toca pra frente esse Quinto Festival de Cinema
Universitário merece umas férias. Sem cabotinismo (Valente,
um dos organizadores, participa de Contracampo), méritos não
faltam. Em primeiro lugar pela organização. Os horários
foram em sua maioria respeitados, os folhetos explicativos, pasmem!, explicaram,
a programação refletiu o tremendo cuidado com as escolhas
e tudo fluiu muito bem. Um motivo básico, e aí, nem ligarei
para o texto de apresentação do catálogo, onde se
diz que há um dilema entre ser um evento profissional e ser um
evento "de estudante" porque não há dilema: há
complementaridade. Ora, um festival que busca divulgar boa parte da produção
universitária e agora chega à sua quinta edição,
já figura como um dos principais eventos de cinema do país.
Se pretende desempenhar tal função, tem em vista as dificuldades
impostas por uma política cultural desde sempre injusta e mal intencionada,
que fez do descaso, aliado aos fungos, aos incêndios e às
inundações, sua principal arma. Uma coisa puxa a outra e
não há dilema: amor pelo cinema, amor pela própria
pele, consciência de uma necessidade. "Amadoramente vivo e
pulsante", sim. Essa vivacidade, porém, se justifica por um
"salvar a pele", pela própria sobrevivência de
um cinema extra-oficial e pela compreensão de que sem exibição
e sem público não há cinematografia e indústria.
O complemento ideal para
essa consciência é a seriedade. O "festival profissional"
nada mais é do que a continuação lógica desse
entendimento. Respeitar o público, buscar uma programação
que justifique a categoria festival, diversificar o número de salas
e correr atrás dos patrocinadores. Um esforço que, se não
resolve os problemas do cinema brasileiro, lhe confere um ponto na escala
da dignidade e completa parte do trabalho que o governo se eximiu de realizar.
Desse modo, amor e seriedade convergem e não há dúvidas
que essa edição garante a presença do festival em
qualquer calendário cinéfilo nacional.
E a programação?
Trabalhos do Instituto Dragão do Mar, do Ceará, grupo capitaneado
pelo homenageado Maurice Capovilla; documentários históricos
coordenados por Luiz Nazário para a UFMG, mostra competitiva com
premiação e boas surpresas, como o curta O Mundo Segundo
Silvio Luiz de André Francioli, as mostras de escolas internacionais,
pré-estréias de Flávio Cândido com A 3ª
Morte de Joaquim Bolívar (ver crítica e entrevista nessa
edição) e Alberto Graça com O Dia da Caça
e a estréia do curta Tropel, de Eduardo Nunes. Um panorama
diversificado e, sobretudo, instigante.
Um panorama diversificado
e instigante, resultado de múltiplos interesses, mas que reflete
fielmente os problemas da produção nacional. E no meio de
tantos problemas sobressai a falta de vontade política. Diante
desse panorama, nos perguntamos quanto de bizness, de estilo, de
pesquisa, enfim, quanto de grana foi depositada no trabalho desses, em
sua maioria, graduandos? Quanta atenção à pesquisa,
importantíssima, desvalorizada dia a dia, e que poderia auxiliar
e ampliar o leque de opções dos estudantes coordenados por
Nazário para o Projeto Imagens de Minas? E os estudantes do Instituto
Dragão do Mar? Quanto vale o trabalho do Instituto Dragão
do Mar? Na Alemanha, por exemplo, muita gente se interessaria por esse
pessoal. Sobretudo quando descobrimos um imenso contingente de alemães
que todos os anos invadem Cuba ou Brasil para fazer filmes e gravar sons
de "apreciação etnológica", com uma vontade
louca de registrar exotismos para veicular nas rádios e TVs alemães.
Trabalhos como "O morador do Castelo" ou "As minhas meninas"
poderiam ensinar muita coisa para esses pesquisadores alemães que
geralmente padecem de eurocentrismo esclarecido, isto é, carregam
o fardo da "culpa" aliado às boas intenções
(dinheiro).
É para se pensar.
Mas não adianta diagnosticar o problema, reclamar, reclamar e não
fazer nada. Os estudantes da UFF fizeram. E o sucesso desse festival é
uma dupla vitória: primeiro porque ele simplesmente existe e é,
desde já, evento de destaque no calendário nacional; segundo
porque, mesmo se o chato que vos escreve consegue ver problemas, não
quer dizer que o festival "manifeste" problemas, mas aponta
e corrige a partir de sua própria iniciativa.
Bernardo Oliveira
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