Plano Geral



FILMES NA TV

O DEMÔNIO DO MÊS DE JUNHO
Esse mês a TVA proporcionará o notável encontro que ocorre em Pierrot le Fou entre o cineasta americano Samuel Fuller e o diretor francês Jean-Luc Godard. Esses dois realizadores, recentemente relembrados pela TV a cabo no começo desse ano, têm uma segunda remessa de filmes inéditos na televisão paga. Sam Fuller aparece no canal Cinemax, com A Lei dos Marginais/ Underworld U.S.S., de 1961 (no dia 16, às 15:15) e O Quimono Escarlate/The Crimson Kimono, de 1959 (no dia 17, às 21:00), que é considerado um
de seus filmes mais importantes. Já Godard terá exibidos, sempre no Eurochannel e às quartas-feiras, a partir do dia 07, sempre às 22:00: Alphaville (dia 7), Made in USA (dia 14), Paixão (dia 21) e Carmen de Godard (dia 28). Os dois primeiros pertencem à primeira fase de sua obra, que nos processos de corte-e-colagem e parodiando os gêneros cinematográficos, operava uma análise sistemática da sociedade de consumo. Já Paixão e Carmen são filmes mais abstratos, que tentam dar conta da relação entre obra e criador, artista e mundo. À medida que Paixão presta contas com um parente privilegiado do cinema – a pintura – e faz um filme-estudo sobre a luz, Carmen coloca em questão o próprio JLG como o tio cineasta gagá de uma moça que planeja roubar um banco utilizando como pretexto uma cena de filmagem.

O CINEMA B DA AMÉRICA
A exibição dos oito episódios das Histórias Maravilhosas pelo canal Telecine 4 (NET) vem em boa hora. Do dia 17 até o dia 24, sempre às 21:45, o espectador poderá ver o melhor e o pior do cinema de ficção científica de uma geração inteira. Formados em grande parte no cinema de poucos recursos e muita criatividade, direto da escola cinefílica de Roger Corman (uma geração antes dos cineastas universitários de cinema), conseguiram transformar o B em A em matéria de divulgação, mas permanecendo B no coração. De todos, o grande exemplo é Joe Dante, cineasta que até hoje permanece fiel ao cinema que o influenciou, basta ver Pequenos Guerreiros e A Segunda Guerra Civil, duas pequenas obras-primas. Seu episódio passa no dia 19. Já dois outros cineastas tiveram um começo bastante promissor mas perderam-se criativamente no meio do caminho: Steven Spielberg e Robert Zemeckis. Imersos num mundo de criatividade grande, em que o cinema apostava nos movimentos dos corpos mais do que nos movimentos das bolsas de ações, eles conseguiram marcar grande parte do imaginário da América com filmes surpreendentes e importantes, como ET e De Volta Para o Futuro. De uma hora para outra, transformaram seus discursos na palavra normalizante da sociedade, na história transformada em entretenimento de A Lista de Schindler ou O Resgate do Soldado Ryan e no discurso senso-comum de Forrest Gump, "o idiota que todos nós somos". Como as Histórias Maravilhosas são um momento antes disso, vale observá-los nos dias 17 (os dois) e 18 (Spielberg). Mas sem dúvida o grande talento dessa geração é Martin Scorsese. Um cinema físico e local, em que toda a vivência da cidade parece sair dos subterrâneos. Ele, e mais ninguém, é o cineasta de Nova York. Sua incursão nas Histórias Maravilhosas poderá ser vista no dia 22.

CINEMA FALADO, AINDA BEBÊ
O canal Telecine 5 da NET exibe em junho dois novos pacotes de filmes dos anos 30/40: um dedicado ao mestre John Ford e outro aos primeiros filmes de terror. Os filmes de Ford representam possivelmente o que há de mais obscuro em sua carreira de cinema falado. Dos cinco filmes, nenhum encontra-se entre os mais citados, estudados ou exibidos. Oportunidade, então, para conhecer uma parte quase secreta de sua obra, com filmes que vão de 1933 (Peregrinação, dia 10, às 18:40) até 1937 (A Queridinha do Vovô, dia 22, às 15:25). Entre eles, O Juiz Priest, de 1934 (dia 18, às 18:20), Nas Águas do Rio, de 1935 (dia 22, às 10:50) e O Prisioneiro da Ilha dos Tubarões, de 1936 (dia 30, às 18:50). Esse período de cinco anos deu apenas um filme consagrado, O Delator, que permanece esquecido pelas tevês a cabo. Mas logo depois de 1937, Ford começará a realizar obra-prima após outra e se transformará no pai do cinema americano.
Se falta nome aos filmes mas sobra ao diretor de um lado, do outro a situação é bem inversa. Pois um espectador não-especializado jamais ouviu falar de Edgar Ulmer, Tod Browning ou até de James Whale. Em compensação, desde criança sabe de Drácula, de Frankenstein e do Homem Invisível. É o nascimento desse estranho gênero herdeiro do conto de fadas que é o terror. Apadrinhado nos Estados Unidos pelo cinema B, o cinema celeiro dos diretores iniciantes, o terror foi uma das mais criativas expressões do cinema no período dos grandes estúdios, revelando, além de Ulmer e Browning, autores como Robert Wise, Jacques Tourneur e Budd Boetticher. Se esses dois últimos já vêm sendo exibidos pelo cabo há algum tempo (mesmo que com um filme cada apenas), há de se notar o lançamento do Drácula de Tod Browning (dia 22, às 18:50), de O Gato Preto de Edgar G. Ulmer (dia 8, às 23:15) e de O Homem Invisível, de James Whale (dia 18, às 15:15). Tomara que seja um grande começo para que possamos ver um volume mais substancial de obras de realizadores como Tourneur, Corman e Boetticher.

UM FILME DE SOM INÉDITO
Dos inúmeros absurdos cometidos contra os cinéfilos, a distribuição de um filme dublado em outra língua diferente da sua original é um dos mais bisonhos. Pois nada justifica isso. Então temos que ver O Desprezo de Godard dublado em inglês, e idem para uma parte do cinema italiano. Com A Noite Americana de Truffaut era igualmente assim: quem quisesse alugar a fita brasileira, teria que ver Jean-Pierre Léaud falando inglês. Finalmente, graças ao canal Cinemax da TVA, poderemos pela primeira vez assistir a esse filme de Truffaut com o som original. Passa no dia 7, às 21:00, com reprises no dia 13 (09:45), 19 (15:00) e 26 (01:30)

Ruy Gardnier