Plano
Geral (fevereiro de 2000)
FILMES
NA TV
TV: A NOVA CINEMATECA?
Não é instigante, provocativo? Mas a realidade é que trata-se de um problema
delineado nos tempos neoliberais: com a nova visão de mundo patrocinada
pela nova configuração mundial e pela modificação dos papéis na economia,
as cinematecas também foram colocadas em questão. Antes da "crise", sabia-se
muito bem o que era uma cinemateca. Uma cinemateca devia guardar e exibir
filmes, preservar a memória da história do cinema e educar novas gerações
apresentando-as às obras "canônicas", recuperando e reavaliando obras esquecidas.
Depois da "terceira onda", essa visão de cinemateca foi aos poucos sendo
deixada de lado em função de uma nova reconfiguração de papéis e tambémk
por uma questão de sobrevivência: uma cinemateca precisa dar dinheiro. Para
isso ela não pode investir no risco. Até nas artes plásticas o problema
foi sentido: Monet, Dalí e Picasso (numa menor escala) foram mais circos
do que exposições, e a medição do sucesso foi dada pelo público, e não pelas
discussões estéticas que suscitou (o que indignou diversos curadores europeus
em viagem ao Rio). Dessa forma a Cinemateca passou a ter um outro papel,
menos de resistência cultural do que de primo pobre do consumo. Quem não
conseguiu ser bem sucedido fechou as portas temporariamente.
Com isso, quem mais perdeu foi o espectador. Imagina-se que o cinema deixou
de ganhar muitos novos admiradores por isso. E os antigos, onde se refugiaram?
Em algumas salas, esporádicas, e nos cinemas de arte, que se preocupam com
a qualidade e a preservação da memória mas são antes de tudo instituições
comerciais (não podem exibir um Bela Tarr de 8 horas nem um Berlin Alexanderplatz,
por exemplo).
Restou à outrora inimiga do cinema, a malfadada televisão, nos guetos dos
canais "de arte" da TV a cabo, preservar a memória cinefílica, na ausência
de uma cinemateca forte. Muitos Truffaut, Welles, Almodóvar, Fritz Lang,
Preminger, Mankiewicz, Fassbinder, Jean Renoir são admirados hoje e o mérito
disso é exclusivamente da televisão a cabo. Filmes de diretores novos, ou,
em todo caso, que não chegaram à tela, tiveram guarida da televisão. Assim
pudemos ver A Segunda Guerra Civil de Joe Dante, o Gingerbread
Man de Robert Altman, o Anjos Caídos de Wong Kar-wai, o Princípio
e Fim de Arturo Ripstein, o Buenos Aires Vice Versa de Agresti,
o A Salvo de Todd Haynes, etc.
Esse mês, mais uma vez, o cabo tem apostas e redescobertas para o espectador:
CLAUDE CHABROL
Se o canal Eurochannel já passa os filmes de Claude Chabrol há
algum tempo, temos motivos para revê-los em série agora: serão
exibidos três de seus quatro primeiros filmes, todos considerados
obras-primas e de grande impacto para todas as gerações futuras
à nouvelle-vague (inclusive para R.W. Fassbinder, que já teceu
mais de uma vez louvores a CC). No dia 03 será exibido Le Beau
Serge / Nas Garras do Vício (1959) e no dia 10 teremos
Les Cousins / Os Primos (1959), no Eurochannel, sempre às
22:00. No dia 17, às 17:00, o canal USA vem acrescentar um inédito
à mostra: Les Bonnes Femmes / Entre Amigas (1960).
São três raras oportunidades de ver a maestria dos jogos de
cena e da direção de atores interpretando a patologia burguesa,
talvez o tema mais caro a Chabrol. E não são atores quaisquer:
Gérard Blain, Bernadette Lafont e Stéphane Audran estão
em ao menos 2 desses filmes. Continuando essa pequena mostra Chabrol, mas
décadas depois, veremos ainda no dia 17 L'Enfer / Ciúme
O Inferno do Amor Possessivo (1994), com a musa Emmanuelle Béart,
e no dia 24, Rien Ne Va Plus, seu último filme a ser exibido
em cinemas comerciais.
ESTRÉIAS
Se grande parte dos filmes dedicados ao centenário de Luis Buñuel
é um puro déjà-vu dos filmes mais badalados do diretor,
um título ao menos é digno dos festejos: Le Journal d'une
Femme de Chambre / O Diário de uma Camareira não
é exibido na telinha faz mais de cinco anos, e merece ser (re)visto
à luz de uma data tão "honrosa" quanto um centenário.
Claro, Buñuel era alegremente avesso a todas essas comemorações
e louvações. Mas esse Diário é uma prova que
Buñuel que recusava firmemente a idéia de uma palette-Buñuel,
um certo estilo de escrita visual possivelmente burguês demais para
o seu gosto podia também entregar-se ao cinema mais refinado
sem entregar-se a veleidades. Para isso, uma das atrizes mais refinadas/despojadas
do cinema: Jeanne Moreau. O Diário de uma Camareira será
exibido nos dias 2 (22:00), 3 (15:00) e 13 (00:30) pelo canal Eurochannel.
Billy Wilder não faz nenhum grande aniversário, mas seus fãs
ganharam um grande presente. Um de seus filmes mais difíceis de achar,
The Emperor Waltz / A Valsa do Emperador (1947), será
exibido esse mês no Telecine 5, no dia 18, às 22:00. Para os
amantes dos cineastas série-B (noir, western, etc.) o Telecine 5
traz dois cineastas mitológicos do gênero mas hoje esquecidos:
Robert Siodmak, que fez o surpreendente The Spiral Staircase, tem
esse mês exibido Cobra Woman / Mulher Satânica
(1944), no dia 17. às 19:10; de Jacques Tourneur, autor do cult Fuga
do Passado, vai passar Canyon Passage / Paixão Selvagem
(1946), no dia 20, às 18:45. Isso para não falar de Budd Boetticher,
que deixou órfãos os amantes do grande nu e cru faroeste quando
a sessão bang-bang da TV Record saiu do ar: seu The Man From The
Alamo / Sangue por Sangue (1953) é figurinha fácil
exibida todo mês, mas já que falamos desses filmes-B, não
custa lembrar que o filme de Boetticher passará no dia 19, às
14:00.
Já nas estréias dos novos filmes, tiramos o chapéu
para os filmes da Mostra Internacional de Cinema, que exibe esse mês
Nível Cinco, de Chris Marker, um grande mosaico cinematográfico
que teve pouquíssimo tempo de exibição no Rio e merece
uma conferida, mesmo que na telinha. Passa no Cinemax no dia 7, às
10:30. Já Os Olhares de Tóquio, filme de Jean-Pierre
Limosin rodado integralmente no Japão, foi lançado direto
em vídeo antes de alcançar a tela comercial (foi apenas exibido
em mostras, com pouco destaque). É um conto geracional à francesa,
mas com ritmo e agilidade de cineasta da novelle vague. Pra terminar
nos EUA, o Wild Things / Garotas Selvagens de John MacNaughton,
que teve péssima aceitação por parte da crítica,
tem uma possibilidade de revisão. John MacNaughton realizou Henry,
Retrato de um Assassino e Mad Dog and Glory / Uma Mulher para
Dois. Junte isso com o talento de Matt Dillon e com os rostinhos de
Denise Richards, Neve Campbell e Theresa Russell, o programa fica quase
imperdível. Passa dia 12 na HBO, às 20:30, com zilhões
e zilhões de repetições depois.
CINEMA BRASILEIRO
Já que nossa edição é sobre cinema brasileiro
na década de 90, nada melhor do que listarmos aqui todos os filmes
desse período que o cabo exibirá em fevereiro. São
eles, em ordem de exibição:
Bahia de Todos os Sambas, de Paulo Cezar Saraceni e Leon Hirszman,
dia 05, às 21:00, Canal Brasil (BRA)
Círculo de Fogo, de Geraldo Moraes, dia 10, às 23:00,
BRA
O Corpo, de José Antônio Garcia, dia 14, às 23:00,
BRA
O Fio da Memória, de Eduardo Coutinho, dia 15, às 17:15,
Cinemax
Lua de Outubro, de Henrique Freitas Lima, dia 17, às 21:00,
BRA
O Escorpião Escarlate, de Ivan Cardoso, dia 17, às
23:00, BRA
A Maldição de Sampaku, de José Joffily, dia 21, às
21:00, BRA
Crede-mi, de Bia Lessa e Danny Rowland, dia 22, às 23:00,
BRA
A Hora Mágica, de Guilherme de Almeida Prado, dia 24, às
21:00, BRA
O Lado Certo da Vida Errada, de Octávio Bezerra, dia 25, às
03:00, BRA
Doces Poderes, de Lucia Murat, dia 25, às 21:00, BRA
Sombras de Julho, de Marco Altberg, dia 28, às 21:00 BRA
Ruy Gardnier
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