Editorial



Alma Corsária, de Carlos Reichenbach

A tarefa não é pouca, nem despretensiosa. Pois realizar, antes mesmo do velório, um inventário crítico sobre o cinema brasileiro da década de 90, é colocar um grande ponto de interrogação na atividade que escolhemos como nossa, nos questionarmos antes mesmo de colocarmos o pé em outra década que, ao que parece, começará com tantos problemas de financiamento quanto essa que acaba de terminar. Contudo, antes da tarefa um tanto diletante e mimada que consiste em "separar o joio do trigo", tratamos de encarar a prática de cinema como um todo, indo desde os filmes que foram acontecimento nacional, bandeira política e estética, até os fillmes segregados pelos exibidores, pela crítica e pelo público. A arte da regra e a arte da exceção. A idéia é construir um painel caleidoscópico e bizarro, tendendo menos para o gostismo do que para uma tentativa de entendimento daquilo que foi a década em seu sentido estético e político. O leitor verá, ao observar os resultados, a ausência inexplicável de certos filmes, enquanto um mesmo filme, até menor, poderá ter recebido diversos olhares e grandes atenções. Melhor assim. Pois essa edição especial 13-14 é mais uma tentativa de esforço de análise e avaliação do que um panorama daquilo que a mídia de cinema e o meio considera o "verdadeiro cinema importante". E mesmo porque a revista, nesse ano e meio de existência, já falou um bocado de cinema brasileiro. E por um motivo principal: não suportamos verdades feitas, todas-prontas. Contra os cânones; sempre as visões parciais.

Ruy Gardnier