Mens@gem para Você (You've Got Mail),
de Nora Ephron (EUA, 1998)

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Meg Ryan e Tom Hanks em Mens@gem para Você

A faceta mais interessante dos trabalhos de Nora Ephron é sempre tentar colocar seus personagens no mundo contemporâneo. Sua profissão de fé na comédia romântica é perfeita para isso, pois o parti-pris dos filmes desse gênero é exatamente mapear as relações amorosas num mundo em que os valores são continuamente cambiantes (relações de trabalho, dinheiro, sexo e as demais lutas do feminismo no séc.XX). Gênero de grande interesse a comédia romântica, então. Mens@gem para Você, por sua vez, nos apresenta dados suficientes sobre a vida dos anos 90: grandes corporações destruindo os pequenos comércios, vida "intelectual" novaiorquina defendendo as minorias, vida conjugal em duas casas separadas, mas principalmente internet. É através de e-mails que os personagens se conhecem e se apaixonam, mas devido a competições profissionais, representam dois lados opostos e passam a ser rivais no mundo não-virtual. É nessa medida que o filme apresenta um certo encanto: atualização de uma história fabular, A Loja da Esquina, transformada em filme por Ernst Lubitsch, Mens@gem para Você consegue em momentos fugazes apoderar certos aspectos da vida dos anos 90 e de     quebra realizar certos momentos líricos, graças sobretudo à atuação de Meg Ryan. Resta que, nesse filme de Nora Ephron, os personagens não têm sexo: as cantadas que o jornalista dá na apresentadora beiram o ridículo, a cama parece ser um lugar designado unicamente para o sono, o elevador transforma-se de objeto fetiche em fim de relacionamento. E, mais que tudo, não há nada menos sexuado do que o pijama de Meg Ryan. Filme infantil, pois, Mens@gem para você fecha com uma tradição idealizada do amor, um amor que nasce "virtual" mas que em nenhum momento consegue atingir um grau verdadeiro de realidade. Nada como a magnífica cena em que Meg Ryan finge o orgasmo em Harry e Sally (roteiro de Ephron). Mens@gem para Você está ausente de orgasmos do mesmo modo que está ausente de realidade: a "virtualidade" de desejos dos personagens encontra aí o pouco desejo da diretora de ater-se aos personagens, de filmá-los no detalhe.

Ruy Gardnier