Armadilha (Entrapment),
de Jon Amiel (EUA, 1998)

Duplo jogo é o assunto desse filme. Ou então o amor que pode surgir entre dois grandes ladrões, que têm por método de trabalho não acreditar em ninguém. Os dois ladrões-fetiches são Sean Connery e Catherine Zeta-Jones. Se o filme se desenvolve em dois sentidos — num é um jogo de gato contra rato, noutro é o nível pessoal que fala mais forte e os dois se acabam se agradando fisicamente — nenhum deles parece importar muito para o desenrolar. Assistimos o filme com tanta passividade que dir-se-ia ser um filme para autistas. A cena final é esperada e até filmada com alguma emoção, vá lá. Mas a história toda é filmada com tanta assepsia que faz parecer que o amor só pode nascer de uma bolha de vidro. Essa bolha, impostura perversa do pior cinema americano, na verdade circunda o espectador. Nenhuma confiança numa história, nem em qualquer carinho especial ao métier. Nada além de dois atores bonitos e talentosos.

Ruy Gardnier