A Música e o Silêncio (Jenseits der Stille),
de Caroline Link (Alemanha, 1996)

O cinema alemão nos anos 90 sofre de um problema semelhante ao nosso: o objetivo primeiro é fazer um produto acabado (no nível da produção), deixando para segundo plano o aprimoramento (estético). A gramática dos filmes é muitas vezes emprestada da publicidade – muitos diretores começam mesmo nesse ramo. A Música e o Silêncio é um filme que tenta um pouco romper com esse esquema, mas acaba tropeçando em seus compatriotas. Daí vermos uma boate filmada com filtro vermelho, para dar um tom de inferninho, uma noite realçada por um filtro azul para "embelezar" a paisagem e movimentos de câmara que são menos calcados no nível da movimentação dos personagens do que numa maior espetacularização da mise-en-scène. Se essas figuras de estilo cinematográficas de mau gosto ainda podem ser usada com fins expressivos (como no cinema de Wong Kar-wai, por exemplo), em A Música e o Silêncio elas só servem para diluir o desenrolar dos personagens – desenrolar, por sinal, despido de um maior interesse. Do filme de Caroline Link observar-se, ao menos, a força da interpretação de Sylvie Testud, que em momentos consegue extrair realidade de um filme que parece estar tão distanciado de qualquer apelo ao real.

Ruy Gardnier